Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Hoje nao vai ser um dia mau

Meu querido pai,

Este ano vou fazer de maneira diferente. Este ano vou celebrar (mais ainda) a tua vida em vez de chorar a tua morte.

Parece-me mais logico ficar feliz pelos 26 em que tive como pai, do que amargurar-me pelos 12 que faz hoje que partiste.

A vida corre bem por aqui. A miuda está enorme e sim... Tinhas razao, é maluca, sai à Mae!
Tem tanto de divertida como de mau feitio. É um poço de contradicao tao fundo como eu. Esta cena dos genes é tramada mesmo...

Sentimos todos muito a tua falta. E falamos muito de ti. Das palhaçadas, das cenas que fazias em publico que nos faziam afastar e fazer de conta que nao te conheciamos de lado nenhum. Das tuas esquecitices com a comida e o teu amor pelos petiscos e marisco.

Da tua maneira de falar pelos cotovelos, de atropelar toda a gente com palavras, fosse quem fosse, mesmo quando a Mae te dava toques para te calares. Parece que estou a ver, de blusao de cabedal preto, camisa verde as riscas (horrivel, por sinal) e calças cinzentas igualmente às riscas (é muita risca junta homem!!! Mas tu ouvias???) a dizer alto e bom som: "quero lá saber quem é!!!"

E dizias as maiores barbaridades na cara de quem que fosse. Uns achavam-te graça, outros nem tanto.
Foste corrido, expulso e convidado a sair de tanto sitio que lembro da Mae a dizer-te tanta vez antes de sairmos de casa "oh Renato, vê lá como é que te portas".
Mas o Renato nao tinha filtros e estava-se bem a cagar para o politicamente correcto e o socialmente aceite.

Adoravas uma boa discussão. Não discussões de gritos e chapadas, mas aquelas em que se esgrimem argumentos como num duelo e ganha quem se mantiver em pé no fim.

Eras teimoso que nem uma mula, chato que nem uma porta e com um feitio que sinceramente, so a senhora minha Mae para aturar!

Mas tinhas um coracao enorme, um riso contangiante e uma força que só a merda do cancro conseguiu quebrar.
Tenho tantas saudades tuas! Das longas conversas, dos mimos e abraços apertados e do cheiro do tabaco misturado com o teu after-shave.

Mas hoje nao vai ser um dia mau. Beijos grandes meu pai!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Do que me intriga

Intriga-me o eterno arrastar do fado, do queixar do dia-a-dia ao balcao do café da esquina enquanto se bebe a 3a bica do dia e se faz ponta de corno para mudar o destino.

Intriga-me o falar da vida alheia, o invejar os feitos dos outros, desejá-los arduamente mas continuar a bater boca à porta da mercearia do bairro onde se dá conta da vida de toda a gente.

Intriga-me o dizer mal por dizer mal, sem averiguar fontes e a carneiragem do mal-dizer.

Intriga-me a revolta paraplégica de um povo que vota em quem mal diz porque "nao tem opcao ou nao havia melhor".

Intriga-me o resignar constante, o "dias melhores virao" e o "isto ainda há-de levar uma volta".

Intriga-me quem critica no Facebook, quem partilha no twitter e quem escreve em blogs reaccionários contra as falcatruas do governo, os aumentos dos impostos, os cortes nas pensoes, os despedimentos em massa e depois, ao final do dia, faz log off, desliga o pc, poe a vida no saco e continua no mesmo rame-rame de sempre porque "nao há muito mais que eu possa fazer".

Intriga-me um povo que dá cartas a torto e a direito, que tem um factor de desenrascanso imenso, que tantos povos nem fazem ideia o que seja e que assiste sentado à sua propria morte e enterro. Como um doente terminal que recusa uma hipotese de cura por nao saber se dará resultado. Mal por mal, deixa-te estar.

Intriga-me a tanta conversa e a tao pouca accao. O tanto lamento e a tao fraca lembranca dos antepassados que nos deram fama pelo mundo inteiro.

Intriga-me e, sobretudo, entristece-me ver o meu povo entregue a uma sina que poderia ser outra. Mudem o fado, facam-se ao mar!!

E por favor criem uma sina nova, mais airosa, menos pesada, mais feliz, menos negra, mais digna, menos vergonhosa.