Lina, no seu metro e meio de gente (literalmente) de seu nome Francelina (mas não digam a ninguém…). Adorava pegar na minha filha ao colo e dizer “ela gosta mais de mim que da mãe!” Argggh!!! A miúda já não a podia ver… ela apertava-a duma maneira sufocante. Vestia, invariavelmente, ou uma t-shirt azul da Absolut ou uma amarela a dizer “Fortaleza”.
Grande Azevedo, só tomava banho de noite, não sabia o que era desodorizante e usava óleo Johnson’s nas “partes mimosas” (palavras dele).
Pinguinhos, vinte e poucos anos, com a mãe a controlar-lhe os passinhos todos. Gay até à ponta dos cabelos (mas a mãe e o pai nem desconfiam). A mãe partia-lhe o bifinho e tirava-lhe a espinhas do peixe, estivesse quem estivesse. Tinha conversas parvas e medo da propria sombra.
Uma noite, na varanda da minha casa, olhava assustado para as pessoas nas varandas do prédio ao lado: "Aquela gente está na varanda, a olhar para nós!"
"E qual é o problema, Pin... Domigos?" (não sei como é que nunca me descaí e lhe chamei Pinguinhos...)
"Não sei, acho perigoso! Não achas que podemos levar um tiro?"
"Isto é Brasil, mas tu andas a ver filmes a mais, rapaz!"
A Lina andava sempre de bloquinho na mão a conferir os preços das gasolineiras todas. Andavam quilómetros para ir ao supermercado, ao meio-dia (na linha do Equador) todos transpirados e ofegantes a dizer “isto faz-se bem”. Não eram sovinas, forretas. Eram, e tanto quanto sei, continuam a ser, miseráveis!
O apartamento deles era tão pequeno que a Mad, quando os visitou, dormia na sala, quase a dois metros da cara do Azevedo… Ah, pois é, que eles não fechavam a porta do quarto!
A Francelina nunca lhe perdoou ter-se mudado para a minha casa. Nem mesmo quando a Mad explicava “mas ela tem um casarão enorme, está sozinha e tem uma suite só para mim!”
A melhor de todas, quando passaram o Natal em minha casa:
Diz a Lina “Então, é preciso levar alguma coisa logo?”. E antes que eu pudesse responder educadamente que não, o Azevedo dá-lhe uma cotovelada e diz agastado: “Olha lá, ela é que convidou! Ela é que tem que por as coisas na mesa!”.
Nesse Natal, numa cidade com coisas tão giras, ofereceram-me uma saída de praia 100% poliester (coisa boa, segundo ela). À minha mãe, saiu-lhe uma tela... (depois de saberem que o meu pai era pintor). A prenda da Kel foi roupa. Numa loja de marca, com coisas lindas, conseguiram escolher uma saia e uma blusa horrorosa (100% lycra) que ainda por cima, não lhe servia.
Ontem, em conversa com a Mad, fiquei a saber que as coisas não lhes andam a correr muito bem. Levaram um desfalque de mais de 150.000 Reais (mais de 50.000€) de um gerente do banco onde tinham conta. Meteram-se em negócios falidos à partida, não por falta de aviso, mas por falta de inteligência. Fizeram por merecer as patacoadas em que se meteram.
Falidos e de orgulho ferido, qualquer dia regressam a Bila do Conde. Desde que não se mudem para perto da minha porta, por mim está tudo bem.