Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Race for Life




Para quem nunca gostou de esforcos físicos digamos que ontem tive a minha dose reforcada. Corri a 1a milha e depois esforcei-me por fazer o resto em marcha. Sempre gostei de fazer marcha. Segundo o meu professor de ginástica, no ciclo, eu tinha jeito para aquilo. E era a unica coisa em que eu era capaz de vencer alguém, inclusive alguns rapazes.

O dia estava super quente (para o normal aqui) e passei a corrida toda a despejar água na tola. E a melhor maneira de passar o tempo e me manter focada foi pensar em cada um dos nomes que tinha escrito na minha camisola. 

A minha t-shirt tinha 10 nomes. Renato Leal - o meu pai - na frente, do lado do coracao. Mais 9 nas costas.
Sem qualquer ordem de preferencia ou importancia:

Mafalda Alves – mae da minha cunhada. Nao conheci, faleceu há cerca de 20 anos era a minha cunhada ainda uma miúda. Já ouvi falar muito dela, vi fotos e parece-me ter sido uma senhora muito querida. 

Mélita – uma boa e grande amiga da minha mae. Era considerada o anjo do centro de saude de Alcantara, onde resolvia os problemas a toda a gente, á boa maneira portuguesa “dá-se um jeitinho”. Fartou-se de sofrer e partiu nova, com pouco mais de 50 anos.

Marlene Sequeira – amiga da minha família desde sempre, conhecia-a desde que nasci. Era baixinha e amorosa. Cheia de vida, professora de trabalhos manuais, sempre de sorriso nos lábios e a boa disposicao. Teve cancro no peito e mais tarde cancro nos ossos.

Ines – nao sei o sobrenome, pois ninguem decora sobrenomes aos 3 anos. Era a minha amiguinha na creche e juntas íamos roubar bolachas de agua e sal antes do almoco, á socapa para as auxiliaries nao nos verem. Tenho uma foto a preto e branco dela. Tinha 3 anos quando faleceu de cancro no estomago.

José Cardoso – tio do meu gajo. Os picantes e as comidas pesadas nao ajudaram muito e partiu em Maio deste ano.

António Cardoso – avo do meu gajo. Nao sei muito sobre ele, tirando que tinha uma fazenda. De certeza que era boa pessoa ou o meu gajo nao falaria dele com tanto carinho.

Delfina Santos – era aquele tipo de pessoa a que toda a gente se referia como “aquela mulher e uma santa”. E era de facto. Enfermeira, era a única pessoa que conseguia cortar a unha esquisita do meu irmao sem que ele gritasse que o estavam a matar ou chamasse pela policia. Foi-se nova, com 50 e poucos anos.

Fátima Matias – foi minha colega de faculdade. Tinha uma forca de vontade incrível. Foi por ela que pela 1a (e única vez) entrei no IPO em Lisboa. Um soco no estomago para uma miuda de 19 anos. Lembro-me que foi a turma toda ve-la. E enquanto nos lutávamos para conter as lágrimas, a Fátima pulava de um lado para o outro e ria toda contente por nos ver todos ali. Morreu aos 26 anos sem ter acabado o curso. Nao foi por falta de pedidos dos colegas, para que a passassem com nota administrativa. Deram-lhe (aos pais) o diploma no dia em que fez 6 meses que ela faleceu. Por causa disso, tive colegas a virar a cara ao director do curso na entrega dos diplomas. Nem beijos nem apertos de mao.

Trevor Atkins – tio da nossa amiga Tina, faleceu no passado dia 30 de Abril. Nao conheci, mas era importante para ela, por isso ficou a minha pequena homenagem.

E pronto. Para o ano estou lá caida outra vez. É que esta cena das causas é viciante. E quando se sabe que se contribuiu para angariar 350 mil libras (sim, trezentas e cinquenta mil libras!) para a pesquisa da cura para o cancro, uma pessoa sente-se bem. Ou pelo menos, eu sinto-me bem.

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