Intriga-me o eterno arrastar do fado, do queixar do dia-a-dia ao balcao do café da esquina enquanto se bebe a 3a bica do dia e se faz ponta de corno para mudar o destino.
Intriga-me o falar da vida alheia, o invejar os feitos dos outros, desejá-los arduamente mas continuar a bater boca à porta da mercearia do bairro onde se dá conta da vida de toda a gente.
Intriga-me o dizer mal por dizer mal, sem averiguar fontes e a carneiragem do mal-dizer.
Intriga-me a revolta paraplégica de um povo que vota em quem mal diz porque "nao tem opcao ou nao havia melhor".
Intriga-me o resignar constante, o "dias melhores virao" e o "isto ainda há-de levar uma volta".
Intriga-me quem critica no Facebook, quem partilha no twitter e quem escreve em blogs reaccionários contra as falcatruas do governo, os aumentos dos impostos, os cortes nas pensoes, os despedimentos em massa e depois, ao final do dia, faz log off, desliga o pc, poe a vida no saco e continua no mesmo rame-rame de sempre porque "nao há muito mais que eu possa fazer".
Intriga-me um povo que dá cartas a torto e a direito, que tem um factor de desenrascanso imenso, que tantos povos nem fazem ideia o que seja e que assiste sentado à sua propria morte e enterro. Como um doente terminal que recusa uma hipotese de cura por nao saber se dará resultado. Mal por mal, deixa-te estar.
Intriga-me a tanta conversa e a tao pouca accao. O tanto lamento e a tao fraca lembranca dos antepassados que nos deram fama pelo mundo inteiro.
Intriga-me e, sobretudo, entristece-me ver o meu povo entregue a uma sina que poderia ser outra. Mudem o fado, facam-se ao mar!!
E por favor criem uma sina nova, mais airosa, menos pesada, mais feliz, menos negra, mais digna, menos vergonhosa.
1 comentário:
Um texto... intrigante!
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