Foi no Bairro Alto. Ela já nem se lembra, mas parece que tinham ido ao Pavilhão Chinês. No parque de estacionamento, com o carro em andamento, ele fala-lhe mais alto e manda-a parar o carro.
"Manda-a"? Sim, falou-lhe naquele tom que os homens gostam de usar, quando acham que mandam. Depois, com aquele seu olhar meio de lado, meio de frente, disse-lhe bem claro "Eu amo-te, entendes?!" Como se quisesse que aquilo lhe entrasse mesmo. Como se aquilo que ele lhe que estava a dizer, ela tivesse mesmo de entender, em todo o seu significado.
Ela, com o pé na embraiagem e a mão no travão, estremeceu, arrepiou-se-lhe o coração e gritou "Ai!". O ar sério dele contrapunha com a doçura do que acabara de lhe dizer. O ar de pânico dela contrapunha com seu estado de felicidade.
"Sim, entendo!" disse ela com o seu melhor sorriso. "Ah, bom!" pareceu dizer o sorriso dos olhos dele. E, sem deixar o carro ir abaixo, ela destravou e seguiu, com o entendimento profundo do seu amor.
Agora que sabem ambos o que andam a fazer, tudo parece muito mais claro. Ele é daqueles que gosta de tudo muito bem explicadinho. Ela é daquelas que gosta de explicar. Várias vezes, para que não restem dúvidas. E agora que ele já as dissipou claramente a todas, quando lhe perguntou se ela entendia, ela, que entendeu, acalmou e ficou bem mais feliz.
2 comentários:
Não entendi e não me acalmo enquanto não entender!!!
Ou, se bem entendi, desejo tudo de bom para ela e para ele.
O que eu acho é que é muito perigoso ter discussões tão metafísicas ao mesmo tempo que se desenrolam coisas tão práticas, como ter o pé na embraiagem e a mão no travão...
Mas isso sou eu, que também gosto de ver tudo explicadinho, arrumadinho e seguro.
Em especial quando atravesso uma passadeira.
;)
Beijos.
JP,
Cá para mim, entendeste... Estás é a fazer-te de desentendido;)
Beijos
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