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que saudades.
Eu tinha uns 6
anos acabados de fazer. Ainda nem sabia ler. E a Cila um dia perguntou-me "Não queres ir para o coro?" E
lá fui eu toda contente cantar com os outros meninos. Pareciam todos tão
crescidos, tão compenetrados.
Até aprender a
ler, ía inventando as letras e cantarolando toda contente. Entretinha me a roer os cantos das folhas dos
cânticos e a apreciar as grandes vozes do coro das 5.30.
Lembro-me de irmos à Sé cantar. E aquele baptizado no Páteo Alfacinha.
Memórias muito queridas que ficaram para sempre. Pessoas muito especiais que
não esqueço. Os Quintelas, os Montes, as Cristinas, a Susana Costa, a Sandra
Novo, a Paula (que nao me lembro do sobrenome mas me adoptou desde que entrei
no coro e me tratava como se eu fosse uma boneca de porcelana) o Carlos
Pereira, o Fernando Oliveira e aquele magricela que tinha alcunha de guitarra
ou coisa que o valha (esta memória já não é o que era) e fazia a entrada de um Hossana
com uma música dos Nirvana - ou era Metallica (ai…)?!
A paciência infinita do Mário Quintela para nos aturar. A sua cara de
desapontamento quando passavamos a homília na conversa e erámos prontamente
chamados à atenção pelo Padre Zé. Os fins da missa em que ficávamos só mais 5
minutos para cantar mais uma música. As gaffes do microfone ligado. As idas
para os bancos do fundo para onde só os mais crescidos podiam ir. E era quase
um ritual de passagem quando finalmente podias ir. Durante anos achei que se
discutiam coisas importantíssimas ali. Afinal não, era só uma forma de
emancipacão como outra qualquer e de fugir aos olhares mais critícos
O Graças ao Senhor cantado até que a voz doesse e/ou até se ouvir na Memória.
E as gerações mais novas que nos substituiram e que olhávamos de soslaio, quais
Velhos do Restelo, “vocês sabem lá o que
era o coro das 5.30 no nosso tempo!!”
O que aprendi com o coro das 5.30? Amizade primeiro que tudo. Laços que o
tempo não consegue cortar, recordações para uma vida. Que se não sabes ler uma
palavra, lês 10 vezes até dizeres certo. Que ser afinada e ter voz não é a
mesma coisa. Que antes de cantares não bebes água. Que se te esforçares e
continuares a tentar, mesmo que falhes umas quantas vezes, um dia chegas lá. E
que os nervos de cantar sozinha ou em dueto te preparam para muita coisa que
vais fazer fora dali. Voz de baixo e voz de cima. Humildade e delicadeza. Não és
nada sozinho/a, precisas do resto da malta para realmente ser um coro e não
dizes a ninguém de caras “hoje estragaste
isto tudo com a tua vozinha de cana rachada!”.
Que te podes divertir imenso a fazer coisas que nem sequer parecem
divertidas. E que se nunca aprendeste a pôr os canticos por ordem, a Ana
Quintela dá uma ajuda.
E que devia ter aprendido a ler
música e a tocar qualquer coisa, nem que fossem ferrinhos.
O coro das 5.30 teve, tem e sempre terá um lugar especial nas meu
coracao. Por todos os momentos e pessoas fantasticas que conheci. Muitas,
muitas saudades! Para quando um reencontro da velha guarda?
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