Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mexer na ferida

Passados 7 anos é preciso levantar tudo. Abrir caixão, lavar ossos e tratar de os meter noutro sítio. Que coisa mais macabra e sádica! Mas é assim mesmo.
Ainda fiz o coveiro remexer tudo, à procura do alfinete do Belenenses que ele levava na lapela... Mas qual quê. O casaco, desfeito. Nem consegui perceber onde estava a lapela, quanto mais o alfinete. A gravata estava intacta. Era muito bonita aquela gravata. E ainda lá meti as mãos, mesmo com os protestos da minha Mãe e da minha cunhada. Qual é o mal? Já não se pega nada...
Deu trabalho enfiar a ossadada junto com a do meu irmão. Estavamos a ver que os fémures não cabiam (o meu pai tinha mais de 1,80m). Mas com jeitinho, lá coube tudo. O coveiro era um querido, sempre a perguntar à minha Mãe se era assim que queria. Tudo muito bem arrumadinho. E lá ficaram, pai e filho juntos.
Acho que não tem jeito nenhum esta coisa de levantar campas. Andarem com ossos de um lado para o outro, e tira e põe, e lava e seca, e vai à estufa para secar mais um bocadinho... irra, que tormento. Tudo isto enquanto a família ou espera, ou assiste. E tudo se revive, tudo vem de novo à tona.
Não foi fácil. Mas achei que iria ser mais difícil, confesso. E lembro-me do sorriso, que me dizem para ter mais vezes. E da Té ontem "Ele ía gostar de te ver é bem disposta!".

Os mortos devem estar é sossegados e em paz. Os meus agora estão. Nunca mais lhes mexem. Falta só mudar a lápide, que agora em vez de um, ficam lá dois. Depois disso, estarão tranquilos. E eu também. Bem mais tranquila.

6 comentários:

João Paulo Cardoso disse...

Não há dúvida que aprofundaste esta questão...

Beijos e bom fim de semana para ti que, felizmente, estás bem viva.

Carlos disse...

Flora,
aqui não sei o que te diga. A dor eu percebo pois alguns amigos, pai e avós... já foram embora. Nunca tive de lidar com o que descreves pois não tenho sequer coragem para isso. De qualquer das formas ficam-nos sempre no coração os sorrisos, os bons momentos e no fundo fica também um bocadinho deles que passa a fazer parte de nós.
E pronto já me comovi.

Beijinho, um abraço de conforto e acredita que estarão sempre contigo.

C

Anónimo disse...

Isso arrepia-me, não me consigo ainda ver num filme parecido, mas os meus já vão com 74 anos...e a vida não é eterna. "Sempre" te achei uma miuda corajosa e com imensa força, entre outros predicados, eu não sei se era capaz. beijinhos PM

Maria Feliz disse...

JP,

Para ti tb, amigo.
Beijo grande

Maria Feliz disse...

Carlos,

Eu também achava que não, até que... E eu tenho todas a boas recordações bem guardadas. E são tantas!

Beijo e bom fim de semana.

Maria Feliz disse...

PM,

Não stresses, não vale a pena.
Beijinhos para todos