Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Por cima de uma louca

Por todo o lado há gente que acha que a vida lhes deve.

Que passam por nós com cara de quem tem a plena convicção que veio ao mundo a saber tudo o que havia para saber. Que os parvos são os outros, que a vida foi inventada para os servir e o centro do mundo está plantado no seu umbigo.

São aqueles a quem eu normalmente acho uma certa piadola quando karma finally hits them. Uns mais tarde, outros mais pela fresquinha, todos sem excepção irão terminar com os cornos espetados numa qualquer parede e aí talvez aprenderao. Uns certamente, outros nem que a vaca tussa ou a porca torça o rabo. Há gente que nunca aprende, por muito estrago que faça. Mas ao menos, a vida dá-lhes umas dores de cabeça enquanto tentam desencaixar os cornos da dita parede.

Isto a propósito de? Da vizinha, claramente. E de como a vida em comunidade se torna uma coisa muito difícil quando nos calha uma tipa destas por baixo (salvo seja!).

Não estou a referir-me á minha vizinha, coitada, que se não é santa, para lá caminha, já que nunca a oiço, raramente a vejo e nunca me incomodou.

Refiro-me sim  á sra. dona vizinha da minha mãe. De seu nome Margarida Ines (o que por si só, já explica muita coisa) que sofre de graves distúrbios, os quais por não terem sido ainda diagnosticados causam transtorno a muita gente. A começar na dita e a terminar na senhora minha mãe, que não lhe fez mal nenhum, mas tem o verdadeiro azar de morar por cima da personagem.

A D. Margarida Ines é uma alma perturbada e devemos todos, sem excepção, ter muita pena dela. Eu não consigo porque devo ser uma besta. Isso, ou tenho dois dedos de testa. Desde que esta nova inquilina se mudou para o prédio, toda a dinâmica da coisa mudou. Desde pontapés a portas, gritos histéricos e malta a ser indentificada pela polícia (o meu irmao até pode ter sido o primeiro, mas não será certamente o último…) tem havido de tudo um pouco.

Há uns meses atrás, eram 9h da noite e a minha progenitora lembrou-se de ir cortar um coelho e temperá-lo para o dia seguinte (manias!). Convém dizer que a minha mae até nem é muito abrutalhada, pelo que o cortar do coelho não devia ser muito audível. Qualquer coisa equiparável ao bater de uns bifes.

Vai daí, a sra. D. Margarida Ines acorda estremunhada do seu sono tranquilo, veste o robe e vem bater á porta da vizinha de cima muito alarmada. “Ai vizinha, acordei assustada, a senhora está a serrar a esta hora?!

E a minha mãe sem muita paciência e as mãos cheias de sangue (do coelho) lá lhe responde que não, estava só a partir um coelho. E olhe, com licença que eu tenho mais que fazer. E porta na tromba que é o que se faz a quem tem pouco que fazer.

Ficaria a história por aqui, não fosse a D. Margarida Ines uma criatura perturbada. Atentem na missiva anexa.


Quando li, não sabia se haveria de rir ou chorar. Se isto não é um atestado de doideira pura, não sei o que será. Gosto especialmente da referencia ao "civismo" numa carta que não se assina nem se mandam cumprimentos, nem beijos ou abraços. Fiquei sentida!

O facto de ela reconhecer que ouve todas as chamadas telefónicas da minha mae até ás 23h é um tanto ou quanto pertubador e precisa de uma análise cuidada. "Ouve" como?! O telefone toca e ela "ouve" a minha mãe a atender ou "ouve" literalmente a conversa toda?! Parecendo que não, são coisas diferentes!

Há gente com pouco que fazer, há gente louca, há gente que nasceu para incomodar os outros, há gente que devia estar internada e anda por aí á solta. E depois há gente como a D. Margarida Ines que é isso tudo e mais um bocadinho.

Leva-me a crer que a D. Margarida Ines tem o sono muito leve. A minha mae é uma senhora educada em colégios de freiras e para que ela levante a voz é preciso mesmo muito. A minha mae tem conversas aparvalhadas com os amigos e a família no Skype, mas não tem riso histérico de teenager nem grita que nem uma maluca. A minha mãe é uma senhora de 66 anos que bebeu muito chá em pequenina e prefere incomodar-se a incomodar os outros.

Posto isto, esta carta é um perfeito disparate e a D. Margarida Ines, além de muita coisa de que a poderia apelidar, é, no mínimo, parva. E devia morar isolada numa moradia, atrás do sol posto (Caneças, talvez?!) para ninguém a incomodar.

A coisa também poderia ter ficado por aqui. Mas não. E nem teria piadinha nenhuma se assim fosse.

Há umas semanas tive de ir a Lisboa e, como é normal, reunimos a família toda para uma jantarada num sábado á noite. Uma espécie de Natal antecipado, já que há 3 anos que não passo o Natal com os meus sobrinhos, irmão, cunhada e afins.

Éramos perto de uma dúzia, com crianças pequenas á mistura e, sim, todos juntos falamos alto com’ó catano. O cozido á portuguesa, o vinho e o bolo rei ajudaram á boa disposicao e rambóia. Mas era só gente a conversar e a rir alegremente. Nada de música aos berros ou malta aos pulos.

Ás 9h40 da noite tocam á porta, não no patamar, mas na rua. A minha mãe pergunta pelo intercomunicador “quem é?” e como resposta leva mais um toque bem longo. E mais um quem é e um terceiro toque simpático de pelo menos um minuto. O meu irmão levanta-se e diz “Querem ver que é vizinha de baixo?!” e larga-se escadas abaixo para ver se a apanha em flagrante. Eu sigo atrás que o gajo até é calminho mas quando se passa, PASSA-SE mesmo. Vamos nós no 1o andar e vem a  D. Margarida Ines, de roupao (diz-se que nunca saiu de casa com outra coisa…)  a subir e diz com ar de enfadado, como quem carrega muitos pesos “Escusam de correr, fui eu que toquei!

E eu,  passada com a gaja (sim, aqui vai-se-me a educacao toda para as cucuias) “Oiça lá, mas porque é que você não sobe as escadas e toca na porta da minha mae e fala com as pessoas normalmente? Isto tem algum jeito?!”

E ela, com um ar que toda a gente lhe deve e ninguém lhe paga (lá está!) “Eu quero-me deitar com a minha filha e não consigo dormir! Voces estao a fazer muito barulho!

Minha senhora, é sábado, ainda nem 10h sao, é uma festa de familia e nós nem estamos a fazer assim tanto barulho. Se está incomodada, deveria ter ido lá acima queixar-se. Isto não tem jeito nenhum!!!

A tipa continua a barafustar e a dizer que quer dormir e o meu irmão diz-lhe de dedo apontado ao nariz “Você não volta a tocar assim na porta da minha mae, está a ouvir?!

E a gaja, de olhos semi-cerrados, dedo também apontado ao meu irmão sai-se com um “Toooooooco! Toooooooco!” (a arrastar os ós como estivesse com prisão de ventre). E eu a pensar cá com os meus botões…. Ui, tanta neurose a precisar de receita médica!

Ai não toca não! Porque se voltar a tocar, eu mando-lhe com um balde de água fria! (tão querido o mano… água fria costuma sempre acalmar, pelo que no fundo isto deveria ser visto como caridade!)

Está-me a ameaçar?!!

A mim pareceu-me, mas fiquei calada, enquanto topava o verniz no dedo indicador que a tipa apontava ao meu irmão e pensava “xiiiiiii, que cor de verniz tão merdosa!

E barafustando fomos andado no patamar e ao chegar perto da porta dela, está um gajo em pijama (tipo aqueles da Throtleman, cheios de bonequinhos) mãos nos bolsos, impávido e sereno.

Comecei a achar que a cena ía dar molho, o meu irmão passado, um gajo ali á porta, talvez disposto a defender o sono da D. Margarida Ines…. Passo pelo gajo na bisga, o meu irmão também, numa estratégia de claramente o ignorar para evitar mais desacatos. 

A vizinha ainda a estrebuchar e o meu irmão a insistir com o balde… começo a subir as escadas e vem a minha cunhada juntar-se ao filme. Mais a minha prima e outros quantos. “Olhe, o seu mal é que isto é uma festa de família e você nao foi convidada!”  É sempre bonito referir as fracas capacidades de sociabilização de quem nos chateia! Digo eu.

A tipa continua a insistir que não consegue dormir e eu como uma vontade enorme de lhe dar umas quantas sugestões cristãs – valeriana, valium, uma queca bem dada quiçá?! (ok, esta menos é cristã, mas muito eficaz, a meu ver…) mas a controlar-me estoicamente! Em vez disso saiu-me um “Sabe que mais, chame a policia!

 Ai chamo, chamo!
-       
          E lá entra para casa, o gajo sempre mudo e tungas, porta nas trombas.

Voltamos todos para casa, um bocado parvos com a cena, mas a achar que a coisa tinha ficado por ali.

Qual quê, é o ficas. A tipa chamou mesmo a polícia e nem 20 minutos tinham passado quando abrimos a porta a 3 (sim, três!!!) polícias. A vizinha queixou-se do barulho e que foi ameaçada. E temos de identificar a pessoa que a ameaçou. Ah… oh mano, estes senhores querem falar contigo!

E como a malta lá em casa estava toda um bocado inflamada com a cena, sai-se a minha prima: Oh senhor agente, isso é que foi rápido. Eu na semana passada assaltaram-me a casa, levaram-me o ouro todo e o portátil do meu filho e os senhores levaram 3 horas para aparecer!!!

-          - Oh minha senhora, depois do assalto consumado, chegar 3 horas ou 10 horas depois vai dar no mesmo!

Eu que normalmente até tenho um poder de argumentação do camandro fiquei KO com a resposta do policia. Sim senhor, sem palavras...

E lá se mostra o cartão de cidadão e se dá a morada e a profissão e se explica a ameça que se fez. Um balde de água fria, senhor agente. Sim, confirma-se, foi isso que a senhora disse.

Eu, completamente incrédula com a história toda disparo sem pensar um “Vá lá, é maluca mas nao é mentirosa!” e atiro-me ao polícia a fazer perguntas sobre a lei do barulho e a insanidade das pessoas.

Para que saibam (que eu também nao sabia) a lei do barulho mudou e enquanto antigamente se podia alarvar até á meia noite num sábado, agora sempre que alguém se sinta incomodado o barulho tem de cessar! Está mais do que visto que a Sra. Dona Margarida Ines já nasceu incomodada pelo que qualquer alfinete que tenha o azar de cair na tijoleira lá de casa vai certamente importuná-la.

Não deixei de perguntar ao senhores agentes e então se a vizinha for tola? E falei da carta e do coelho, ao que um dos agentes desatou a rir. Há um histórico por detrás disto, correcto? Correcto, mas nós só estamos a responder a esta occorrência e não sabemos de mais nada. Tendo ainda se prontificado a explicar que, não sendo eu psicóloga ou psiquiatra, não podia dizer que a senhora era tola, pois até ele podia ser tolinho e eu não saberia dizer com certeza (que confiança que este polícia me inspirou, senhores!!!!).

Resumindo e concluindo, faz favor de fazerem menos barulho, que a vizinha quer dormir, correcto? Oh sim, senhor agente, que nós somos bem mandadinhos e educados. 

Mas se esta idiota de primeira apanha continuar com estes filmes eu juro que ajudo o meu irmão a encher o balde! Haja pachorra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Devia ter sido água mais fresquinha... já congelada. E atirava-lhe o balde também. Ias ver que dormia um soninho descansado. Ass: P "o mano" L

Maria Feliz disse...

Xiiiii que violencia mano! :)