Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Falar como as pessoas



Dor de garganta já podia ir com os porcos. Safa… a engolir pedacinhos de vidro desde quinta feira. Não se aguenta!

Bom, já dizem os genes tugas que “podia ser pior”. Pois bem, podia. Podia ser uma gripe daquelas de caixão á cova, ou uma infecção respiratoria, ou pneumonia ou o caralh… Isso anima-me que é um disparate.

O que me anima mesmo são as disparidades linguísticas nesta empresa! É uma festa. Por exemplo, a chinesa, de sua graça Fan (sim, eu faço uns trocadilhos muit’a giros com o nome dela, como não?!). 

A tipa vive aqui há 10 anos mas tem um sotaque tão fechado que eu até ouço os meus carretos a engatar, tal o esforço que faço para conseguir entender o que a tipa diz. Não fosse tão divertido, seria até doloroso.

No outro dia ela veio perguntar uma coisa qualquer sobre um email que lhe tinham enviado em que ela não entendia o que lhe estavam a pedir. O meu manager que é um gajo todo despachado e de poucas conversas atirou-lhe um seco “send me a note and I’ll reply to him” e ela com um ar muito atrapalhado “but I don’t have any note… just the email!!!” (oh pá... como é que se escreve em inglês com sotaque chinoca??? É que perde metade da piada...) Ao que o meu manager encolheu os ombros, contorceu os cantos da boca e a contragosto disse “the email, I meant the email”. Eu que sou tuga, loira e ás vezes vagarosa, entendi. A ela, que mais parece uma ventoinha de tecto sem motor (não disse??!) passou-lhe ao largo.

Há pouco veio aqui chatear-me por causa de um erro numa factura. Factura que eu fiz e ela conferiu. E com cara de poucos amigos sai-se com um “Pleaze dont du dat agan!” (inglês com sotaque chinoca, voilá!) Fosse em Portugal e leva com um sarcástico “Conferisses tu melhor as facturas e não estavamos sequer a falar nisto, certo? Agora vai soprar para o outro lado, vai lá!”. 

Mas esta merda nao é a república das bananas e nem culpa morre solteira. Portanto, peço imensas desculpas e que o dragão de jade me açoite mil vezes (a parte do dragão guardei para mim, não fosse ela não perceber e eu depois ter de estar meia hora a explicar devarinho e a fazer desenhos).

Quem gosta muito dela é o meu colega paquistanês que nasceu em Hong Kong. Sim, esta merda aqui parece uma mini convenção da ONU. O tipo, como viveu em Hong Kong até aos 16 anos imita na perfeição o sotaque dela. E eu parto-me a rir. É isso e o sotaque paquistanês. Que ele não tem porque nunca viveu lá. Mas mais uma vez imita perfeitinho. E eu fico com a sensação que trabalho com o Mr Apu (dos Simpsons) ali sentadinho ao meu lado e que a qualquer momento o tipo me vai perguntar se eu quero Tika Massala…

E depois... depois ainda temos o tótó do belga a fazer perguntas parvas (tinha de ser o belga, certo?) o alemão que até se come (para alemão!) e diz que gosta do meu cabelo á hippie (???), o norueguês que é um bocado lento, o holandês que parece que fuma qualquer coisa muito forte (só podia) a italiana boazona (combina) o dois franceses mais charmosos que sei lá (um deles até combina a meia com o lencinho e está-se bem a cagar quando lhe dizem que isso é um bocado panisgas) o meu manager que até tenta ser nazi pelo sangue, mas como nasceu aqui não se safa e por fim o director que é bife mas fala como se tivesse um ovo cozido inteiro na boca e lá começo eu a ouvir os carretos a engatar, cada vez que o gajo faz mais uma piada infeliz sobre portugueses. Não que não entenda a piada. Não consigo é perceber puto do que o gajo diz. Nem eu, nem ninguém. Mas á boa maneira inglesa, tudo acena com a mona e diz que sim. Fosse em Portugal e de certeza que lhe dizia “Mas queres falar como as pessoas, caralh…!?!" Mas é melhor não. Que eles aqui têm os tugas como gente trabalhadora, educada e um tanto ou quanto falcatruísta. E quem sou eu para lhes gorar as expectativas. Acena com a cabeca e deixa-os pensar que sim, que entendeste tudo, tudinho.

Vou ali engolir mais uns bocadinhos de vidro. E ouvir esta gente que fala como os desenhos animados, não como as pessoas.

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