Dor de garganta já podia ir com os porcos. Safa… a engolir
pedacinhos de vidro desde quinta feira. Não se aguenta!
Bom, já dizem os genes tugas que “podia ser pior”. Pois bem,
podia. Podia ser uma gripe daquelas de caixão á cova, ou uma infecção
respiratoria, ou pneumonia ou o caralh… Isso anima-me que é um disparate.
O que me anima mesmo são as disparidades linguísticas nesta empresa! É uma festa. Por exemplo, a chinesa, de sua
graça Fan (sim, eu faço uns trocadilhos muit’a giros com o nome dela, como
não?!).
A tipa vive aqui há 10 anos mas tem um sotaque tão fechado que eu até
ouço os meus carretos a engatar, tal o esforço que faço para conseguir
entender o que a tipa diz. Não fosse tão divertido, seria até doloroso.
No outro dia ela veio perguntar uma coisa qualquer sobre um
email que lhe tinham enviado em que ela não entendia o que lhe estavam a pedir.
O meu manager que é um gajo todo despachado e de poucas conversas atirou-lhe um
seco “send me a note and I’ll reply to him” e ela com um ar muito atrapalhado “but
I don’t have any note… just the email!!!” (oh pá... como é que se escreve em inglês
com sotaque chinoca??? É que perde metade da piada...) Ao que o meu manager encolheu os ombros, contorceu os
cantos da boca e a contragosto disse “the email, I meant the email”. Eu que sou
tuga, loira e ás vezes vagarosa, entendi. A ela, que mais parece uma ventoinha
de tecto sem motor (não disse??!) passou-lhe ao largo.
Há pouco veio aqui chatear-me por causa de um erro numa factura.
Factura que eu fiz e ela conferiu. E com cara de poucos amigos sai-se com um “Pleaze dont du dat agan!” (inglês com sotaque chinoca, voilá!) Fosse em Portugal e leva com um sarcástico “Conferisses
tu melhor as facturas e não estavamos sequer a falar nisto, certo? Agora vai soprar para o outro lado, vai lá!”.
Mas esta
merda nao é a república das bananas e nem culpa morre solteira. Portanto,
peço imensas desculpas e que o dragão de jade me açoite mil vezes (a parte do dragão
guardei para mim, não fosse ela não perceber e eu depois ter de estar meia hora
a explicar devarinho e a fazer desenhos).
Quem gosta muito dela é o meu colega paquistanês que nasceu
em Hong Kong. Sim, esta merda aqui parece uma mini convenção da ONU. O tipo,
como viveu em Hong Kong até aos 16 anos imita na perfeição o sotaque dela. E eu
parto-me a rir. É isso e o sotaque paquistanês. Que ele não tem porque nunca
viveu lá. Mas mais uma vez imita perfeitinho. E eu fico com a sensação que
trabalho com o Mr Apu (dos Simpsons) ali sentadinho ao meu lado e que a
qualquer momento o tipo me vai perguntar se eu quero Tika Massala…
E depois... depois ainda temos o tótó do belga a fazer perguntas parvas (tinha
de ser o belga, certo?) o alemão que até se come (para alemão!) e diz que gosta do meu cabelo
á hippie (???), o norueguês que é um bocado lento, o holandês que parece que fuma
qualquer coisa muito forte (só podia) a italiana boazona (combina) o dois
franceses mais charmosos que sei lá (um deles até combina a meia com o
lencinho e está-se bem a cagar quando lhe dizem que isso é um bocado panisgas) o
meu manager que até tenta ser nazi pelo sangue, mas como nasceu aqui não se
safa e por fim o director que é bife mas fala como se tivesse um ovo cozido
inteiro na boca e lá começo eu a ouvir os carretos a engatar, cada vez que o gajo
faz mais uma piada infeliz sobre portugueses. Não que não entenda a piada. Não
consigo é perceber puto do que o gajo diz. Nem eu, nem ninguém. Mas á boa
maneira inglesa, tudo acena com a mona e diz que sim. Fosse em Portugal e de
certeza que lhe dizia “Mas queres falar como as pessoas, caralh…!?!" Mas é melhor não. Que eles aqui têm os tugas como gente trabalhadora, educada e um
tanto ou quanto falcatruísta. E quem sou eu para lhes gorar as expectativas.
Acena com a cabeca e deixa-os pensar que sim, que entendeste tudo, tudinho.
Vou ali engolir mais uns bocadinhos de vidro. E ouvir esta gente que fala como os desenhos animados, não como as pessoas.
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