Ofensas, dores, traições, promessas falhadas, ilusões acordadas... todos teremos disso. Uns mais, outros menos. Cada um saberá onde lhe apertam os sapatos, onde se lhe cravam os espinhos, onde magoam as lembranças.
Porque às vezes é necessário cuspir o que magoa. Como tomar um purgante e deitar fora as bolas de pêlo que fui acumulando pela vida. Algumas, muitas, fui deixando pelo caminho. Porque o infractor não me diz muito, porque a traição foi pequena, porque a desilusão era esperada. Outras, poucas, trago-as cravadas no peito. Porque me tornam pesada, gostava de as ir deixando. Como folhas que o vento leva. Como chuva em Abril, que refresca e lava a alma.
São ofensas que levei a sério. Que magoaram, porque não as esperava, porque não as antevi. Porque foram um tirar do tapete onde tinha os pés assentes. Porque fizeram ruir parte do meu mundo. Porque me fizeram acordar de sonhos que eu queria ver tornados realidade. E depois, porque fizeram, aos meus olhos, pessoas tornarnarem-se mais falíveis. Mais propensas ao erro. Não menos de confiança, mas mais reais. E são as pessoas reais que nos magoam. Que nos ferem.
Pessoas que, de um dia para o outro, acordam com um ar diferente. Porque nos magoaram. Ficam com ar menos importante. Mais próximo daqueles outros que nos cravaram as ofensas na carne. E juntamo-los todos. Não que todos magoem igual. Mas todos magoaram. Todos falharam.
E depois de escrever isto, fico mais leve. Com a alma mais lavada, como se estivessemos em Abril e tivesse chovido. Talvez seja esta a minha forma de perdoar. De deixar que as feridas sarem. Que depois de tirar as ligaduras, a ferida deixa a cicatriz, mas já não dói. E quando já não dói, já não interessa, já deixou de ser assunto.
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