Demasiado real para ser sonho, demasiado sonho para ser real. Mas realmente sonhado, na noite do último domingo.
Num balcão de um qualquer banco falido, prestes a ser nacionalizado, dirijo-me ao caixa.
- Eu queria fazer um levantamento. É um depósito a prazo, que fiz há cerca de um ano e meio e era suposto ser vitalício.
Desculpe mas não é possível.
- Como não é possível? Tem de ser possível!
Não, minha senhora, não é. Todas as contas estão congeladas, não é possível fazer qualquer movimento. Talvez depois da nacionalização. Agora é impossível.
- Chame o gerente, o administrador corrupto, o accionista inocente!! Alguém que me possa devolver o que depositei! Não me vou embora sem isso! - disse exaltada, furiosa, capaz de bater no tipo.
Esperei uns largos minutos, até que me apareceram uns engravatados de aspecto grave e decidido. Eram dois. Levaram-me para um canto e pediram-me para manter a calma. Que compreendiam a minha situação, mas que só me restava esperar...
Argumentei que a publicidade deles era enganosa, que se tinham assegurado de confiança, sérios, acima de qualquer dúvida, o melhor local para depósitos vitalícios, que pudessem render para toda a vida. Um investimento seguro, onde nada poderia falhar.
Mais uma vez, com um timbre de voz calmo mas firme, explicaram-me que nada havia a fazer. Que acontece aos melhores e que teria de compreender. Que voltasse mais tarde, ou que desistisse (entre dentes dissera-me que seria o melhor...).
Cabisbaixa concordei, não conformada, mas seguramente vencida. Quando já dava meia volta para a porta, um deles tocou-me no ombro e com ar complacente perguntou-me "Que tipo de depósito era o seu?"
Com os olhos rasos de água, levantei a cabeça e respondi-lhe "Depositei todo o meu amor. Vocês disseram-me que era eterno!".
4 comentários:
Pois... hoje foste tu a estar na berlinda, calha a todas!
Beijo grande,
xunana
Xu,
Já se sabe que num qq encontro da Turminha, alguém tem de ser o bobo!
Para a próxima será outra (digo eu...)
Beijos
Este texto...
... tem qualquer coisa de...
... inebriante...
Gostei muito.
É uma parábola, não é?
(isto sou eu a tentar tirar nabos da púcara, seguindo as pistas dos marcadores...)
Beijos.
JP,
Parábola, não digo... mas que tem muito que se lhe diga, tem.
E o mais fantástico, é que o sonhei mesmo!
Beijos
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