Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O meu Vietnamita

É um dos quadros da minha vida. Há vários, mas este é talvez o mais carregado de significado.

A história de como chegou a mim… Nos anos 70 o meu pai tinha uma galeria de arte e alguém lhe terá pedido ajuda para organizar uma exposição colectiva no Casino do Estoril, patrocinada pela Embaixada Americana em Portugal. Ele não falava uma palavra de inglês, mas conseguiu fazer-se entender quando lhe perguntaram qual o quadro que mais gostava. O Vietnamita de Jami Nix. Quando a exposição foi inaugurada este quadro já tinha uma bola vermelha (para quem não sabe, a bolinha vermelha significa “vendido”). Embora triste com a venda, o facto de ter sido o primeiro a ser vendido, deu ao meu pai o gostinho de ter escolhido o melhor quadro. Quando a exposição terminou, o quadro foi entregue aqui em casa, como agradecimento pela ajuda na organização do evento. O mais intrigante é que a pintora não estava na exposição e o meu pai nunca a conheceu.

Durante anos, muitos, esteve pendurado no quarto dos meus pais e desde que me lembro de existir que olho para ele. Com os meus 6, 7 anos não raras vezes fui apanhada a imitar-lhe a pose, a olhá-lo de canto, a medi-lo de cima a baixo. Sempre foi o “meu quadro”. Nessas coisas de partilhas, eu e o meu mano entendemo-nos muito bem: este é teu, aquele é meu e ninguém se chateia. Este sempre foi meu. Nunca isso esteve em questão.

O meu pai sempre disse que só mo daria quando eu casasse... Cheguei a achar que a doação estava em risco. No meu 24º aniversário, um bocadinho contrariado, mas suficientemente doente para entender que poderia não ter muito mais oportunidades para me dar aquele presente... recebi dele a minha melhor prenda: o "meu quadro”.



O meu vietnamita… sei que o conheço, e ele conhece-me a mim. Não só pelo olhar (que é exclusivo para mim… parece inacreditável mas, para mim, ele olha de forma diferente) mas também pelo cruzar de braços, as rugas da pele, o tom cinza dos cabelos… até o casaco. Tudo nele me é familiar.

Nunca fui muito de me apegar a coisas materiais, mas se há coisa da qual tenho a certeza de que não me quero separar nunca, é deste quadro. O meu vietnamita é quase como uma pessoa de família. Já lhe estudei vezes sem conta os olhos, a expressão, a postura… Já fiz demasiadas conjecturas e argumentos para a história da sua vida. Aquele fundo vazio faz-me imaginar um sem número de locais onde a pintora o pode ter encontrado… Pintado há tantos anos, o mais natural é ele já ter morrido, sem que eu nunca soubesse o seu nome, quem foi, como viveu, o que passou. Mas o seu ar carregado leva-me a pensar que a sua vida não foi fácil. E apesar de tudo, sempre esteve comigo, como que a olhar por mim.

Nos últimos anos este quadro andou aos tombos, por onde andei, andou comigo. Esteve poucas vezes pendurado e a maior parte do tempo esteve embrulhado em panos, numa garagem, ou no porta-bagagem de um carro.

Há pouco tempo voltei a pendurá-lo. E parece que tudo voltou a fazer a sentido… Ele olhou para mim, como se me perguntasse “Que tens feito?” e quando lhe contei deu-me a sensação que ficou contente por ter estado embrulhado… Depois, tenho quase a certeza que sorriu, como se dissesse “Humm, parece-me bem. Gosto de te ver assim”.
Feliz por me ver feliz.

“É opção de quem vê, apreciar simplesmente ou procurar um significado mais profundo.” Jami Nix, 2007

Jami Nix was born in Corpus Christi Texas in 1955. The daughter of a naval aviator, she spent her youth moving from air base to air base. Jami moved to Portugal in 1977 and began her career in fine art. She had her first solo show in Lisbon by invitation of the American Ambassador to Portugal. In 1982 she married her husband Thomas Rahn, they moved to Geneva Switzerland where she worked and exhibited for 4 years. In 1986 they moved to Brazil and then returned to the United States in 1988.
Jami continued her art career while moving through five states with her husband and two daughters. She now resides and works in Weston, Florida.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lembro-me bem dele em casa dos teus pais... Qd vi a foto veio-me logo à cabeça essa imagem:)

bj
ac

Anónimo disse...

http://enidblyton.info/video/flora.wmv