Eu tinha 13 anos. Ele tinha uns meses mais.
De seu nome Alexandre, alto, giro, de olhos e cabelo claros, bom aluno, líder dos rapazes da turma, cavalheiro com as meninas (coisa rara... os outros, ou era calenadas ou apalpões). Bom aluno, educado, bem arrajando e cheiroso. Ai, ai... o que eu snifei numa amostra de Drakar Noir...
Eu... menina do Papá (e da Mamã), um esboço daquilo que sou hoje, mas com o mesmo mau feitio e pêlo na venta. Tinha boas notas, era bem comportada, não me metia em confusões, nem em curtes na mata.
Suspirei por ele durante um ano lectivo inteirinho. Toda a gente sabia. Inclusive ele. Casmurra como sempre fui, nunca lhe disse nada. Achava que o primeiro passo tinha de ser ele a dá-lo. Quando estávamos os dois juntos, suportávamos estoicamente as piadas dos colegas e fazíamos de conta que não entendíamos. E o ano passou-se.
Já perto das férias grandes, ele decidiu-se. Queria falar comigo. E toda a gente sabia. Inclusive eu. No final da última aula, lembro-me do Bruno André (meu colega desde a primária) ter-lhe perguntado se ele precisava de um prato de Nestum.
Morávamos relativamente perto uns dos outros e fazíamos o caminho até casa juntos. Nós dois e mais uma quantidade deles. No fim da rua, na esquina onde todos os dias nos separávamos, ele esperou por mim.
Com um ar sério e importante (que até hoje não esqueci) perguntou-me "O que é que se passa contigo?"
Foi uma desilusão! Ora bolas... Isso lá é pergunta que se faça? Com o dosseir A4 apertado com força contra o peito, olhei primeiro para os meus pés, a ganhar confiança, depois nos olhos dele e respondi confiante "Nada!"
Com a falta de jeito típica dos nossos poucos anos, ficámos os dois especados a olhar um para o outro. Até que ele repetiu a pergunta. E eu repeti a resposta. E ele quis saber se eu tinha a certeza. E eu, como a tinha, disse que sim.
Enquanto ele olhava para mim espantado, eu alternava o peso do corpo de um pé para o outro, com aquele meu ar natural, de quem acaba de dizer uma barbaridade com a maior convicção do Mundo (quem me conhece, sabe bem que olhar é esse).
Despedimo-nos com um simples "até amanhã" e seguimos o nosso caminho. Tudo ficou por ali. Ele ficou baralhado. Eu fiquei com a certeza de que já não valia a pena. Tinha passado tempo de mais e eu sabia que ele não sentia o mesmo.
No ano seguinte, mudámos de escola e ele não ficou na minha turma. Numa escola com gente mais velha, havia muita coisa nova, muitos amigos novos e diferentes para conhecer.
As minhas colegas todas já namoravam. Umas mais sério, outras menos. Algumas há mais de um ano.
Por volta dessa altura, o Alexandre confidenciou a um amigo comum que estava arrependido. Que se no 9º ano soubesse o que veio a descobrir no 10º, não me teria "deixado escapar".
Foi o primeiro a dar um tiro no pé. Não sei se isto explica alguma coisa ou se seria, simplesmente, um prenúncio do que se passou a seguir na minha vida. Perdi-lhes a conta. Só sei que anda por aí muito menino a coxear.
4 comentários:
Eu próprio dei alguns tiros no pé, durante a minha vida.
Felizmente num desses casos, mesmo ferido, ainda fui a tempo de resgatar a presa e tem sido até hoje.
E agora, como já temos alguma confiança, deixo a pergunta para reflexão:
Tu própria... não terás uma arma descarregada escondida debaixo do colchão?
Beijos e bom fim de semana.
P.S:
Espero histórias mais positivas na próxima semana para equilibrar o faroeste.
Tens disparado para todo o lado, a torto e a direito.
Desculpa.
Drakar Noir, hehe, muito bom! Era tiro e queda, eram favas contadas! Não sei porquê esse perfume era demais para o olfacto das adolescentes!!!
JP,
Fico feliz por esse resgate:-)
Eu? Armas? Ó JP!!! Tu dizes cada barbaridade!!!!;-)
Beijo e bom fds. Não andes à chuva que te podes constipar.
Ervizinho*
Também usavas, né??;-) Malandreco!
Beijos
* acho este petit nom um luxo:-)
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