Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Ora bolas!

Com o calor que tem feito, as janelas da nossa varanda têm estado sempre abertas.

Esta madrugada, pouco antes das 5h, acordei com o som de vidros a partirem. Levantei-me assustada, a pensar que fosse dentro de casa. Fui até à varanda e fiquei tipo tótó a olhar para dois fulanos a fugirem com duas máquinas de bolas.
Foi a primeira vez que assisti a um assalto. Com uma chave de mudar pneus tinham partido a montra do supermercado e agarrado o que estava mais à mão.

Senti-me completamente estúpida a olhar para eles, de um 2º andar, em pijama, meia estremunhada de sono… “Tirando chamar a polícia, o que é que eu posso fazer?!”. Gritar “agarra que é ladrão” seria parvo, no mínimo. Além de àquela hora não estar ninguém na rua, hoje em dia devem ser poucos os incautos que ainda se dignam a correr atrás de ladrões.

Fiquei-me pelo avisar a vizinha, caixa do supermercado, que surgiu mais alva que a sua camisa de dormir, meia a cambalear. O alarme tinha-lhe interrompido o sono e já adivinhava o que se tinha passado.

O facto de eu ter visto os larápios a correr rua abaixo, não ajudou muito. Estava escuro, eu achei que estava a ver um filme e não retive grande coisa, até porque o cérebro ainda estava a acordar… Reparei nos bonés. Eram miúdos entre os 17 e os 20 anos. E um deles estava com sérias dificuldades em carregar o produto do roubo.

Aquele supermercado já deve ter sido assaltado mais de uma dúzia de vezes. E o Sr. Manel ainda não se convenceu de que o melhor a fazer é por uma grade na montra. Os agravamentos que tem sofrido no seguro já deviam dar para pagar a dita cuja.

Em tempos áureos, o supermercado do Sr. Manel foi o único sítio onde o bairro podia fazer compras. Ele tinha o monopólio no retalho. O seu único concorrente era o padeiro da Panibel, logo ali na esquina. Mas nem esse se aguentou.

Há uns 20 anos atrás, as compras faziam-se de carrinho, nos dois únicos corredores que o espaço tem. Ao sábado, havia sempre engarrafamentos, bate-boca entre as vizinhas para apurar quem chegou primeiro e corridas para agarrar o último pacote de leite Vigor.

O Sr. Manel era um déspota, arrogante e antipático, no alto do seu trono solitário. Chegou a ter 4 empregados. Hoje é só ele, a mulher e a minha vizinha e grande parte do tempo, contam moscas.
A arrogância foi amainando com a chegada dos concorrentes. Nunca mais vi filas na caixa (em tempos foram duas). Os carrinhos desapareceram sem deixar rasto e os cestos metálicos foram substituídos pelos de plástico.

Para amansar ainda mais a fera e beliscar o seu orgulho, vieram os assaltos. Antigamente iam ao tabaco, que ficava logo ali na caixa. Depois que o Sr. Manel lhe mudou o sítio, passaram a ir a tudo… levam o que estiver à mão.

Quando voltei para a cama, andei às voltas para adormecer outra vez. Das muitas coisas que me ocorreram sobre o assunto, houve uma que retive. E as mães dos ladrões? Estariam sossegadas a dormir, a pensar que os filhos estavam onde? Ou estariam a marimbar-se para o caso? Será que sabiam o que os filhos andavam a fazer? Pois, não sei. Mas fiquei a remoer nisto… nas mães dos ladrões.

4 comentários:

João Paulo Cardoso disse...

Estás a escrever que é uma delícia!!

1 dia destes combino com 2 encapuçados, levo 3 pés-de-cabra, trevos de 4 folhas, 5 sentidos despertos, meia dúzia de armas brancas, e antes que avistes os 7 anões, roubo-te o blog, Branca de Neve!

Beijos!!

E continua a escrever assim.

Ricardo Fonseca disse...

Estariam as mães dos ladrões a rezar, à frente da figura de Nossa Senhora, para que os filhos não fossem apanhados?

Estariam as mães dos ladrões a supervisionar o acto de bloco de notas numa mão e cronómetro na outra?

Estariam as mães dos ladrões, sossegadamente, à espera do produto do roubo?

Maria Feliz disse...

JP,

Amigo, que é que és um comentador de mão cheia (e também escreves que é protento). ADOREI este comentário. Gracias:)
Beijos

Ricardo Fonseca,

E eu é faço filmes... Tens uma imaginação do caraças! Original, no mínimo.

Ricardo Fonseca disse...

Tudo é possível...