Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

A Senhora minha MÃE

O mano já teve direito a texto, os amigos, os menos amigos e até os desconhecidos também...

Chegou o dia desta Senhora. Não é o texto que eu queria escrever. Não lhe faz justiça, de todo. Mas é o texto possível, no resto da hora de almoço de uma 2ª Feira.

A minha mãe é daquelas à antiga, de peso (em todos os sentidos). Com colo onde eu ainda consigo caber, e onde ainda sobra uma perna para o meu mano e os dois braços para os netos.


Tem uma visão derrotista do Mundo, quando lhe toca a ela. Mas pintada a cor de rosa para os que a rodeiam. Tem sempre aquela conversa de “melhores dias virão” e “deixa lá, que isso passa”.

Há uns meses, enquanto eu me queixava de mais um desaire, a boa da minha Mãe rematou-me com um irónico “descansa que para freira não ficas!!!”. Tem um sentido de humor fantástico. Quando está bem disposta, põe meio mundo a rir e o outro meio a chorar por mais.

As vezes é demasiado “evoluída” para o meu gosto.

O meu pai costumava dizer que quando a tinha conhecido, ela era uma tapadinha, mas que ele lhe tinha ensinado tudo. Olho para trás e não sei quem ensinou mais a quem. Ele ensinou-lhe os truques todos, as chicas-espertices e a abrir o olho. Ela talvez lhe tenha ensinado que com calma e paciência, tudo se faz.

A minha Mãe é perita em aparar golpes, sejam os meus, os da neta, os dos amigos. Venha quem vier, há Mãe para todos.

Os meus amigos acham-lhe um piadão. O Mar chama-lhe “Velha” e ama-a de paixão. Quando passou férias connosco, dava-lhe “mimos” que a deixavam negra (palmadas de carinho, entenda-se) e antes de partir comprou-lhe uma almofada vermelha, em forma de coração.

Já a Mad, agora deu para lhe chamar "Tia Aninhas" e acha o máximo ela andar nestas coisas dos blogs.
A Élita costuma dizer-me que acha fantástica a 'boa onda' dela e a forma como encara os problemas todos que eu levo para casa.

Há tanto para dizer sobre a minha Mãe. Prescindiu de estudar para tomar conta dos irmãos mais novos. Prescindiu de uma carreira, para educar os filhos de perto e estar sempre a 5 minutos de casa. Se na primeira não teve opção, na segunda optou de livre vontade.

Foi um luxo crescer com uma mãe que estava sempre por ali, que entrava às 8h30 e saía às 16h30. Apesar de, o facto de ela trabalhar na mesma escola onde a gente estudava, não ter tanta piada - estávamos controladinhos até ao tutano.

Embora há 15 anos criticasse a forma como os meus pais me educavam, hoje olho para trás e acho que a “rédea curta”, mais do que uma maneira segura de nos criar, era uma declaração de preocupação. E não tenho dúvidas de que é assim que quero educar a minha filha.

A minha Mãe chateava-nos a mona até a exaustão, para saber onde estávamos, com quem e pior, o que fazíamos! E eu vou ser igualzinha com a Raquel, tal como tenho a certeza que o meu mano vai ser igual com o meu sobrinho.

Hoje em dia, como não fica bem dar broncas em marmanjos com mais de 30 anos (entenda-se eu e o meu mano) e até porque o senhor meu irmão não tem tamanho para levar rabucadas… a minha Mãe optou pela escrita. Em tempos foram as cartas manuscritas, deixadas em cima da cama, para serem lidas com a almofada. Hoje são os e-mails infindáveis, com lambadas de luva branca que nos fazem engolir em seco.

Nunca com ela discuti uma carta que me tenha escrito (chama-se a isto poder de encaixe) e já não recebo nenhuma há uns tempos (devo andar a portar-me bem!).

À parte da ajuda impagável e imensurável que a minha Mãe me dá com a educação da minha filhota, o facto de ela estar sempre ali é um dado que dou como adquirido. Não quero pensar no dia em que terei de reequacionar isso.

A frase preferida dela chegou a irritar-me solenemente. Porque não a compreendia, porque achava que nem tudo podia ser culpa minha e porque este nariz empinado às vezes não me deixa ver um palmo à frente. Hoje já entendo melhor porque é que “viver não custa, custa é saber viver”.

Os amigos todos (mais que as mães) cada vez que me apanham dizem-me “Tens uma grande mãe!” quase como se eu não soubesse. Eu sei. Posso é não demonstrá-lo ou dizê-lo da melhor forma. Mas sei que tenho uma grande Mãe. A MINHA.

4 comentários:

Anónimo disse...

é a lei natural das coisas...imagina o espanto dos teus bisavós quando o carro passou a ser banal, dos teus avós quando o computador apareceu, da tua mãe quando conversar com os amigos passou a ser "chatar"( do latim chat, claro)e o teu espanto quando um dia para falares com a tua filha nem precises de abrir a boca porque a mente fará tudo...é só preciso continuar a haver codigos e chaves para limitar as fotos de 1 ano a beber dos copos dos convidados das festas lá de casa,ahaha...a minha mãe desde que tem internet, arranjou mais uma maneira de estar entretida e falar com os amigos, quanto aos emails que manda, primeiro vão directamente para a lixeira e só depois é que faço a seleção (odeio as correntes de amizade que dão dolares e premios)

Maria Feliz disse...

Kiko,

O espanto do meu bisavô foi tanto que, apesar dos semáforos, mandava parar os carros na Av. da Républica (tadinho, foi atropelado!)

Quanto à minha mãe, podes não acreditar, mas foi ela que me deu as primeiras dicas sobre o MSN.

E lá em casa, quase que há horários para ir à net, e a Raquel ainda não entra na competição...

Já em relação aos e-mails... há uma amiga da minha mãe, na casa dos 60 também, que me entope a caixa com outras coisas, que não correntes. Mais aqueles do género de fazer corar (até) a Cicciolina! (isto ainda há-de dar um texto...)

Há gerações tramadas:)

Beijos

Anónimo disse...

são foças internas que estiveram anos a fio presas e que só agora podem exprimir tudo o que vai na alma de uma maneira pratica e sem tabus- enfim , a internet - é por isso que no outro dia mandei um email agressivo mas perguntei quem queria continuar a receber, e tu disseste que não, ficaste com o rotulo xk294 -

Maria Feliz disse...

Kiko,

Viva a loucura da net.
E obrigada pelo rótulo. Eu gosto de rótulos.

Beijos:)

Ass.: xk294