Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Golden Gate Bridge

O local do Mundo onde mais pessoas se suicidam.

Não é um filme para pipocas. Talvez por isso o meu balde tenha ficado mais de meio. Também não é um filme com actores. Os protagonistas são pessoas reais que contam histórias reais. As imagens são de uma beleza de cortar a respiração, ou não estivesse esta ponte considerada pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.

Confesso que o filme é brutal e abanou-me. De tal forma que tive de me esforçar para me manter, apenas, a lacrimejar. Houve quem saísse a meio.

Trata-se de um documentário sobre algumas das 24 pessoas que, em 2004, se suicidaram na Golden Gate Bridge. Algures no tempo, a contagem dos suicídios parou, para não atrair ainda mais suicidas.

A história mais impressionante é a de um rapaz de vinte e poucos anos. Levou 40 minutos a decidir-se. Durante esse tempo, uma turista dirigiu-se a ele e pediu-lhe que lhe tirasse uma foto. Não fez caso do seu ar perdido e do seu rosto lavado em lágrimas. Apenas queria uma foto de recordação. E ele tirou-a.

Depois saltou os 70 metros que o separavam da água e... sobreviveu! Caiu de pé e agarrou-se a uma foca até a guarda costeira o recolher.

A alienação da turista fez-me rever a correria em que vivemos.

Nem de propósito, hoje recebi um e-mail de uma boa amiga, que tem a sorte de viver no Sul do país e que, depois de uma visita a Lisboa, me diz “(...) ao fim de algum tempo já estava a estranhar toda essa loucura. O trânsito, a confusão, o barulho, o desespero e o stress das pessoas é impressionante para quem se dá ao trabalho de parar e observar...(...)”.
Apesar de tudo, A Ponte é um documentário-choque. Como todas as pontes, tem um outro lado, que por momentos faz esquecer o foco de rapina das câmaras ocultas. Eric inspirou-se num artigo do jornalista Tad Friend, no New Yorker. Ali se lia uma passagem de uma carta de despedida: «Vou caminhar até à ponte. Se uma pessoa me sorrir pelo caminho, não salto». Saltou. Um dos wind-surfista do início do documentário, o que sentiu «some stuff falling», conta como acordou naquela manhã a pensar que estava um belo dia para surfar. Enquanto noutro ponto da cidade, alguém acordou a pensar que estava um belo dia para morrer.In Visão.pt - Final Cut, Ana Margarida Carvalho

No filme, mas do que as observações dos amigos e familiares, ficam as perguntas. O que leva uma pessoa a suicidar-se? É um acto de coragem, egoísmo, cobardia... desespero?

Não consegui ficar indiferente a um pai que diz "não podia fazer mais nada" ou a uma mulher que, sabendo o que o amigo ia fazer, e sem mais nenhum argumento para o persuadir, lhe pede para anotar o seu nome num papel e pôr num saco de plástico no bolso. Para que a pudessem avisar quando acontecesse.

O sentimento de culpa de quem fica é, por vezes, maior que a dor da perda.

Para a maioria de nós, o desespero é suportável e o sol nasce todos os dias. Pensamos “amanhã é outro dia!”.

Para outros não.
Dedicado a Rui P. falecido a 28 de Abril de 2006

8 comentários:

Anónimo disse...

"Cum catano..."

A vida na cidade faz nos perder anos de vida ... tudo se passa tão rápido, que quando paramos para respirar, deparamo-nos com um Mundo completamente transfigurado. Questionando essa transformação, deparamo-nos com alguém ao espelho que não reconhecemos ... "mas eu tenho 20 anos" - pois sim, mas isso foi a 20 anos atrás.

Esta é a verdade sobre o viver ou somente trabalhar numa grande cidade.

Tudo se passa em Warp Speed.

"O que leva uma pessoa a suicidar-se? É um acto de coragem, egoísmo, cobardia... desespero?"

Em determinadas culturas foi visto em tempos como um acto de coragem, principalmente para limpar a honra de si próprio ou mesmo de toda a família (Japão Feudal), noutras culturas é considerado um pecado (Religião Cristã) ... pessoalmente considero uma falta de coragem imensa. Atitude de egoísmo extremo, em que se centraliza todo o problema em si próprio.

Há pessoas em piores condições, em situações de vida de extrema pobreza, de extrema violência, em condições desonrosas, mutilados fisica e psicologicamente, e conseguem prosseguir a sua vida em busca de melhores dias.

Conheci pessoas que optaram por essa saida "facil" em situações de aperto ... mas nao o acho corajoso. Nem consigo equacionar tal coisa.

Corajoso é quem fica e "agarra o problema pelos cornos"

Grettir

Mad disse...

Grettir, às vezes quem fica, fica porque não tem coragem para se matar... essa questão do "acto de coragem vs. cobardia" tem que se lhe diga. Eu acho que depende dos casos, mas inclino-me para a coragem.

Flora, gosto de te ler assim.

Maria Feliz disse...

Grettir,
Como qualquer opinião, a tua não deixa de ser válida.
Tenho pena de não conseguir ser tão "clara" sobre o que penso do assunto! Para mim não é assim tão preto como egoísmo, ou branco como coragem.
É um cinzento indefinido que não me permite defender ou acusar. Meio termo, entendes?

Beijo

JOAO MARIA disse...

julgo que coragem , nao é , o restante nao sei , dificil julgar, somos todos tao diferentes!todos temos passados diferentes, valores, realidades etcetc
quem somos nos para julgar os outros?
um dos grandes fascinios da vida , é conseguirmos entender os outros

Maria Feliz disse...

Mad,
Pois. Tiraste-me as palavras da boca... o assunto "tem que se lhe diga"!

E sabes que, no fundo, tirando o chorrilho de patacoadas e disparates, há dias em que me dá para escrever assim...

Beijo grande

Maria Feliz disse...

João Maria,
Ora aí está uma grande verdade "quem somos nós para julgar os outros?".
Concordo plenamente. Quanto ao resto, fico no meio termo.

Beijos

Anónimo disse...

sabes?sou o joao, fui eu que escrevi , o joao maria é o meu filhote.o blog do joao e feito comigo
daqui a pouco vamos os dois a alfama , aos santos populares, é sempre giro
beijos dos dois

Maria Feliz disse...

Pronto, já baralharam a loira outra vez...

Beijos e divirtam-se