Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Tempo

Podia ter outro nome qualquer, podia ser filha de outra pessoa qualquer, podia ser tudo diferente, mas não é.
Chama-se Raquel, tem 4 anos (quase, quase 5) e é minha filha.
Faz perguntas difíceis, daquelas que é preciso pensar muito bem antes de responder. Tem saídas desconcertantes e às vezes, muitas vezes, olha para mim e desafia-me… quer saber até onde pode ir. Fala pelos cotovelos e “cala-te” não é propriamente uma ordem que ela tenha facilidade em cumprir.
Diz preciosidades como “eu sempre te adorei-te” e amua quando as coisas não lhe correm de feição.
Ontem pedia à avó que a ensinasse a ficar muito quietinha no fim da aula de ginástica, pois quem ficar mais quietinho, vai à frente no comboio. Ela nunca foi à frente no comboio.
Não gosta de legumes, e tirando ervilhas… o pouco que a conseguimos enganar, vai na sopa. É fantástico ver a evolução dela e constatar que a cada dia que passa é mais difícil enganá-la.
Adora pôr a mesa e fazer surpresas. Ou hão-de ser os pratos virados ao contrário, ou os talheres colocados noutro sítio que não o convencional… mas mesa posta pela Raquel, é sempre diferente. E faz questão que todos cheguem à mesa de olhos fechados, para gritar “surpresa” quando os abrimos!
Gosta de ir ao colo para a cama, de preferência de cabeça para baixo, mesmo que eu já esteja de rastos. Ela já sabe que todas as frases começadas por “Oh minha linda mãezinha” surtem o efeito esperado.
Anda numa fase de fazer desenhos para toda a gente. Para agradecer presentes que recebeu, para responder a cartas, para dar parabéns mas, principalmente, porque lhe apetece. Faz questão de aprender a escrever os nomes das pessoas para quem faz os desenhos. Pede-nos para escrevê-los e copia-os. Depois pede um envelope, dobra o desenho em quatro, muito bem dobradinho, e pede-nos para pôr no correio (no caso de não o poder entregar pessoalmente). O desenho que aqui está é dos mais giros que tem feito. Mas eu sou suspeita.
No último almoço de família, antes de irmos para a mesa, pediu a todos que se pusessem em fila e entregou um envelope a cada um.
Tem o génio da mãe, resposta sempre pronta na ponta da língua e nos últimos tempos tenho dado por mim a pensar se o meu exemplo de vida não será um bom estágio para ela. Conter a impulsividade e morder a língua de vez em quando. Tudo se aprende… e quanto mais cedo melhor.
Tenho consciência que não a vou poder poupar a desgostos e desilusões, quedas e percalços. Por isso mesmo tenho de a ensinar a defender-se, a lidar com os problemas e a manter a cabeça erguida.
Sei que tudo o que fizer por ela vai sempre, aos meus olhos, parecer pouco. Ela é o melhor que já fiz na vida e vou sempre achar que estou abaixo das expectativas.

Há uns dias, antes de dormir, disse-me que além de boa noite, tinha de me dizer outra coisa. Quando perguntei o quê, respondeu-me com um abraço e um “obrigada”. Nesse dia dei-lhe o que ela mais gosta que lhe dê: o meu tempo.
Faça o que fizer à Raquel, dê-lhe tudo e mais alguma coisa, o melhor que lhe posso dar é mesmo o meu tempo.

No último Natal alguém me perguntou o que queria de presente… disse-me “pede-me o que quiseres!!!”. Respondi-lhe “nada que possas comprar e tudo o que dês com o coração”.
Parece-me que o tempo é um bom presente. Pelo menos a Raquel acha que sim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mana
Escreves bem mas não me convences...
Como é que queres dar tempo à tua filha se sais ao fim-de-semana sem ela, a passagem de ano foi sem ela, o teu jantar de anos ia sendo sem ela e algumas das tuas férias são sem ela...
Os miúdos gostam mais daquilo que têm menos...
Bjs
PL

Maria Feliz disse...

Ai mano velho, mano velho... se não gostasse tanto de ti! Eu sei que falho, mas chego lá...
Perfeita, perfeita, mesmo perfeita só a Super Bock sem alcool... e com sabor a pêssego.
Bjs
PS: Para primeiro comentário, estiveste bem:)