Novela (que podia ser mexicana) com um número infindável de episódios e protagonistas a mais, vendida em pacotes económicos aos países do leste europeu. Enredo muito intrincado, malfeitores qb, doses exageradas de sacanices, facadas nas costas e muitas figurantes com língua de porteira. A única coisa que vale a pena no meio desta salganhada toda?! A protagonista, que interpreta este argumento sem mudar uma vírgula... ou não fosse isto a sua vida.

domingo, 22 de abril de 2007

Incentivo

O texto que era para vir para aqui hoje, não tinha nada a ver com isto. Era o relato de um jantar fantástico, em Vila Nogueira de Azeitão... mas outros valores se impõem. Depois resolvo se o faço ou não.
Estou um bocadinho... com uma pontinha de.... pronto, confesso, estou vaidosa!
Foi o primeiro texto que enviei para um concurso. Acho que vai servir de incentivo para outras andanças.
Já não é a primeira vez que faço links para o blog deles. Este é feito com um “Parabéns ao Vencedor” e um “Vocês são grandes Ser Ajuda!”.
Não por terem escolhido o meu texto. Mas pelo Concurso, pelo empenho e por tudo o que põem de vocês naquilo que fazem. Vê-se que é com alma.
Fica o texto.
Não acreditar
Já foi moda ser cristão, católico praticante. Agora é moda o quê? Não sei. Acho que só me vou actualizar nessas coisas quando a minha filha chegar a adolescente e se referir a mim como “cota”.
Engraçado, a minha filha é cristã desde que começou a falar. Pelo menos, só nessa altura é que eu me apercebi disso. Quando tinha menos de dois anos, perguntou-me o que eu tinha pendurado ao pescoço e eu respondi-lhe que era o Jesus da mamã. E ela, intrigada, questionou-me “E onde está o Jesus da Raquel?”. É óbvio que passou a ter um. Ainda mal andava, pediu-me para entrar numa Igreja para ir ver o Jesus.
Nas nossas andanças por terras de Vera Cruz, sempre que via uma Igreja, não se calava enquanto não a levávamos lá. Muitas vezes me interroguei… “Como é que ela sabe que é uma Igreja?” Há pais que desde cedo falam aos filhos sobre religião, Jesus Cristo e os ensinam a Oração da Noite. Não foi o caso. Apenas respondia às perguntas dela…
Um dia a olhar um céu fenomenalmente estrelado, numa praia deserta, ela abriu os braços e disse “O céu do meu avôzinho…” Fala dele como se o tivesse conhecido, embora ele tenha morrido 3 meses antes dela nascer. Pediu-nos insistentemente uma foto dele para pôr na mesa-de-cabeceira. Mas houve um período em que virava a foto e quando lhe perguntava porquê, respondia-me que não aguentava olhar para ele. Há uns meses, abraçou a fotografia e chorou desconsoladamente, enquanto entre soluços dizia “Tenho tantas saudades do meu avó!”. Por diversas vezes ela diz que quando for grande, a avó será pequenina, como se compreendesse alguma coisa sobre vidas passadas ou reencarnações.
Não consigo entender como é que ela tem tanta curiosidade sobre Jesus. Mas há coisas que não são para entender. Como o facto de eu acreditar em Deus. Ou como ela dizer-me que sabe que tudo vai correr bem. “Raquel, como sabes isso?”, “Foi o Jesus, mamã. Falou comigo ontem à noite e disse-me.” Dirá quem lê, é bem mais fácil para uma inocente de quatro anos do que para um adulto presunçoso e egocêntrico, acreditar em Deus. Crianças acreditam em tudo, até no Pai Natal, no Coelhinho da Páscoa e na Fada dos Dentes. Pois, concordo. Mas a crença da Raquel é genuína, nada tem de marketing ou publicidade barata. Não foi uma verdade transmitida ou imposta, apenas a constatação de que existe.
Ao invés disto, e porque para haver verdade tem de haver mentira, para haver sim tem de haver não, há quem não acredite. Em nada! Não só em Deus ou Jesus Cristo, mas simplesmente, não acreditar em nada. Os ditos agnósticos, ateus… abstémios de religião. Como é possível viver assim? Não é um julgamento, mas uma sincera incompreensão. Se ao acreditar em Deus me vejo tantas vezes impotente para justificar tanta coisa, como o faria se não acreditasse? Será mais fácil apenas dizer que Ele não existe, e é por isso que o Mundo está assim? O ódio, a repressão e a violência sobrepõem-se ao amor, à liberdade e à paz porque Deus não existe… será essa a justificação dos ateus?
Na minha vida de três décadas e pouco tenho-me cruzado com diversos tipos de ateus. Os que já acreditaram e se deixaram disso, porque a vida lhes foi cruel e concluíram que isso justificaria a inexistência de Deus. Os que nunca acreditaram. Os que, nem sabem porquê, não acreditam, porque não conhecem, porque nunca ouviram falar, porque não entendem. Dá trabalho ser cristão! Praticante então, nem se fala…Mas será mais fácil, pura e simplesmente, não acreditar em nada?
Quando morre alguém, qual é o maior consolo de um cristão? Que quem morreu estará melhor, mais perto de Deus, em paz. E um agnóstico, que pensa? Olha, morreu, morreu! Acabou. Enterra-se e pronto. Convenhamos, ser cristão tem o seu quê de romantismo, acreditar na vida após a morte, em coisas eternas, em almas e anjos da guarda. E qual o sentido que um agnóstico define para a sua vida? Nasce-se, vive-se e morre-se. E mais nada. Além de ser pouco, é infinitamente triste. Quase como não sonhar. E o que fazemos sem sonhos? Vivemos ocos, não será?
Eu concordo que um Céu límpido e povoado por seres alvos e carregados de luz, em contraposição a um inferno escaldante de sofrimento e dor são visões difíceis de defender, de justificar. E à porta de entrada o São Pedro, a definir quem vai para onde, é um cenário tanto ao quanto cinéfilo, mas temos de concordar que o argumento está bem escrito e chama-se Bíblia.
Quando era miúda e me vinham com a teoria da descendência dos macacos, eu contrapunha com um arrogante “Eu descendo de Adão e Eva!” E lá voltamos ao romantismo! Pode não ser muito fácil de sustentar, mas é muito mais bonito do que descender de um… símio.
Há uns dias, enquanto me lamentava de uma atitude de alguém de quem gosto muito, um agnóstico dizia-me “É lixada essa coisa de ter de dar a outra face, não é?”. Não deixa de ser uma metáfora. Há várias formas de dar a outra face, e em vez de lhe dar a outra face, apenas lhe deixei a porta aberta para outra oportunidade. Embora saiba, de antemão, que a atitude que esse alguém possa vir a ter, me venha a magoar mais que a segunda bofetada.
Não é fácil, mas no fim acaba por ser mais reconfortante do que fechar a porta definitivamente. Muitos não crentes já me perguntaram como é possível acreditar sem ver, acreditar e justificar o que vai mal no Mundo. Talvez tivesse os meus motivos para deixar de acreditar… perdi um irmão, um pai, bons amigos, entes muito queridos.
Há cinco anos atrás, passei uma temporada de escuridão, em que não fui eu, não fui ninguém… apenas passei. Tenho penas como toda a gente, carrego pesos na alma como o ateu que não acredita.
Mas penso: tenho 31 anos de vida, se a minha filha com quatro anos não precisa de provas que Deus existe, porque hei-de eu precisar?

1 comentário:

Ser Ajuda disse...

Um segundo lugar muito justo...

Parabéns!